quinta-feira, 26 de julho de 2012

Nosso Lar - Capítulo 34

Neste capítulo, os irmãos que foram resgatados do Umbral inferior são recebidos nas Câmaras de Retificação. André Luiz se aproxima de uma velhinha e não reprime a curosidade pela sua estória. Ela tinha sido uma fazendeira, dona de inúmeros escravos, que desencarnara em maio de 1888, pouco depois da Princesa Isabel ter assinado a Lei Áurea.
"Como lhe disse, enquanto estive na Terra, fiz o possível por ser uma boa religiosa. Sabe o senhor que ninguém está livre de pecar. Meus escravos provocavam rixas e contendas, e embora a fortuna me proporcionasse vida calma, de quando em quando era necessário aplicar disciplinas. Os feitores eram excessivamente escrupulosos e eu não podia hesitar nas ordens de cada dia. Não raro algum negro morria no tronco para escarmento geral; outras vezes, era obrigada a vender as mães cativas, separando-as dos filhos, por questões de harmonia doméstica. Nessas ocasiões, sentia morder-me a consciência, mas confessava-me todos os meses, quando o padre Amâncio visitava a fazenda e, depois da comunhão, estava livre dessas faltas veniais, porque, recebendo a absolvição no confessionário e ingerindo a sagrada partícula, estava novamente em dia com todos os meus deveres para com o mundo e com Deus."
O texto apresenta dois pontos para reflexão. O primeiro ponto é a ideia que alguém possa ser melhor ou inferior a outro devido à cor da pele, da religião ou da situação financeira/social. Quem é cristão não pode aceitar esta ideia, ela é contra a lei do amor de Deus. Quem é espírita sabe que o corpo físico é temporário e, portanto, não temos cor ou posição social eternas. Em uma encarnação podemos ser do sexo feminino e negra, na outra encarnação podemos nascer em um corpo masculino e branco.

O segundo ponto de reflexão do texto é a religião. Neste caso, somente o culto externo foi observado. A irmã seguiu todas as formalidades que a religião lhe exigia, mas isto não significou que ela se tornou uma pessoa melhor. Ela provavelmente foi uma boa católica, mas não foi uma boa cristã.

E nós espíritas? Qual será a nossa situação quando chegar a nossa hora de prestar contas?
"Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral, e pelos esforços que faz para domar suas más inclinações".
                                                               Allan Kardec

Carmem Bezerra

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