segunda-feira, 13 de maio de 2013

No Mundo Maior - Capítulo 18

Enquanto André Luiz e Calderaro esperam o retorno do grupo de trabalhadores que entraram nas cavernas, eles observam um grupo de irmãos que seguravam lama nas mãos imaginando que seguravam ouro.
"- São usurários desencarnados há muitos anos. Desceram a tão profundo grau de apego à fortuna material transitória, que se tornaram ineptos ao equilíbrio na zona mental do trabalho digno, por incapazes de acesso ao santuário interno das aspirações superiores. Na Crosta da Terra, não enxergavam meios de se ampararem com a ambição moderada e nobre, nem reparavam nos métodos de que usaram para atingir os fins egoísticos. Menosprezavam direitos alheios e escarneciam das aflições dos outros. Armavam verdadeiras ciladas a companheiros incautos, no propósito de sugar-lhes as economias, locupletando-se à custa da ingenuidade e da cega confiança. Tantos sofrimentos difundiram com as suas irrefletidas ações, que a matéria mental das vítimas, em maléficas emissões de vingança e de maldição, lhes impôs etérea couraça ao campo das ideias; assim, atordoadas, fixam-se estas nos delitos do pretérito, transformando-os em autênticos fantasmas da avareza, atormentada pelas miragens de ouro neste deserto de padecimentos. Não podemos predizer quando despertem, dada a situação em que se encontram."
André observa que uma pessoa do grupo apresenta os primeiros sinais de consciência da situação em que se encontra. Emocionando, ele reconhece nessa pessoa o seu avô paterno que desencarnara há mais de 40 anos.
"- André, já sei de tudo. Entendo agora a significação de tua vinda a estas paragens: Irmã Cipriana tinha razão. Não temos tempo a perder. O velho revela-se receptivo. Começou a entender que provavelmente estará em erro, que talvez respire atmosfera de pesadelo cruel. Ajudemo-lo. Urge auxiliar-lhe a visão, para que nos enxergue."
André então conversa com o avô e o faz entender a sua situação no Mundo Espiritual. Não se contendo, ele também acaba por revelar a sua identidade para o irmão infeliz.
"Esqueci, por momentos, os estudos que me impusera a fazer; olvidei os quadros daquele ambiente, que provocavam curiosidade e pavor. Meu espírito respirava o reconhecimento sincero e o amor puro; e, enquanto as míseras entidades emuradas na usura gritavam, revoltadas, umas, e riam outras à sorrelfa, incapazes de compreender a cena improvisada, eu, amparado por Calderaro, que também enxugava lágrimas discretas, diante da comoção que me assaltara, sustentei meu avô nos braços, como se transportara, louco de alegria, precioso fardo que me era doce e leve ao coração."
É um texto belíssimo que reforça a ideia que todos nós pertencemos a uma grande família e que a morte não acaba com os laços afetivos criados. 



Carmem Bezerra

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