Parte I - Capítulo III - Do método
Neste Capítulo, Kardec fala qual a melhor forma de convencer as pessoas sobre o que a
Doutrina Espírita fala.
"Quem,
pois, seriamente queira conhecê-lo deve, como primeira condição, dispor-se a um
estudo sério e persuadir-se de que ele não pode, como nenhuma outra ciência,
ser aprendido a brincar. O Espiritismo, também já o dissemos, entende com todas
as questões que interessam a Humanidade; tem imenso campo, e o que
principalmente convém é encará-lo pelas suas consequências."
Para Kardec, o ponto de partida para entender o
Espiritismo é a existência da alma. Se uma pessoa acredita que a alma sobrevive ao corpo, ela poderá mais facilmente entender os conceitos discutidos no
Livro dos Espíritos.
Portanto, é importante tornar uma pessoa espiritualista antes de torná-la
espírita.
"Ora,
para o materialista, o conhecido é a matéria: parti, pois, da matéria e tratai,
antes de tudo, fazendo que ele a observe, de convencê-lo de que há nele alguma coisa
que escapa às leis da matéria. Numa palavra, primeiro que o torneis ESPÍRITA,
cuidai de torná-lo ESPIRITUALISTA."
Kardec classifica os materialistas em duas classes:
- Os
que o são por sistema - há a negação absoluta. O homem, para eles, é simples
máquina, que funciona enquanto está montada, que se desarranja e de que, após a
morte, só resta a carcaça.
- Os
que são por falta de coisa melhor - são deliberadamente e o que mais desejam é
crer, porquanto a incerteza lhes é um tormento.
Ao lado dos materialistas, temos os incrédulos que Kardec classifica em de
má vontade e os por
interesse ou de má-fé. Eles são espiritualistas. Sabem que a alma sobrevive ao corpo, mas preferem não se envolver com o Espiritismo por interesses materiais ou para não ter de mudar as atitudes que adotam.
Os que aceitam o Espiritismo e se propõem a um estudo direto, Kardec classifica essas pessoas em:
- Os
que creem pura e simplesmente nas manifestações. Para eles, o Espiritismo é
apenas uma ciência de observação, uma série de fatos mais ou menos curiosos.
São os espíritas experimentadores.
- Os
que no Espiritismo veem mais do que fatos; compreendem-lhe a parte filosófica;
admiram a moral daí decorrente, mas não a praticam. Insignificante ou nula é a
influência que lhes exerce nos caracteres. Em nada alteram seus hábitos e não
se privariam de um só gozo que fosse. São
os espíritas imperfeitos.
- Os
que não se contentam com admirar a moral espírita, que a praticam e lhe aceitam
todas as consequências. Convencidos de que a existência terrena é uma prova passageira,
tratam de aproveitar os seus breves instantes para avançar pela senda do
progresso, única que os pode elevar na hierarquia do mundo dos Espíritos,
esforçando-se por fazer o bem e coibir seus maus pendores. São os verdadeiros
espíritas, ou melhor, os espíritas cristãos.
- Há, finalmente, os espíritas exaltados. Em Espiritismo, infunde confiança
demasiado cega e frequentemente pueril, no tocante ao mundo invisível, e leva a
aceitar-se, com extrema facilidade e sem verificação, aquilo cujo absurdo, ou
impossibilidade a reflexão e o exame demonstrariam. O entusiasmo, porém, não
reflete, deslumbra. Esta espécie de adeptos é mais nociva do que útil à causa
do Espiritismo.
Finalizando o Capítulo, Kardec afirma que os espíritas devem colocar a preocupação com o estudo sério antes da curiosidade com os fenômenos espíritas.
"Temos notado sempre que os que creem, antes de haver visto,
apenas porque leram e compreenderam, longe de se conservarem superficiais, são,
ao contrário, os que mais refletem. Dando maior atenção ao fundo do que à
forma, veem na parte filosófica o principal, considerando como acessório os
fenômenos propriamente ditos. Declaram então que, mesmo quando estes fenômenos
não existissem, ainda ficava uma filosofia que só ela resolve problemas até hoje
insolúveis; que só ela apresenta a teoria mais racional do passado do homem e
do seu futuro. Ora, como é natural, preferem eles uma doutrina que explica, às
que não explicam, ou explicam mal."
Carmem Bezerra