Parte I - Capítulo II - Do maravilhoso e do sobrenatural
Neste Capítulo, Kardec discute que não há sobrenatural, o que existem são fenômenos ainda não devidamente explicados. Ele resume o seu ponto de vista em oito postulados.
"1º
Todos os fenômenos espíritas têm por princípio a existência da alma, sua sobrevivência
ao corpo e suas manifestações.
2º
Fundando-se numa lei da Natureza, esses fenômenos nada têm de maravilhosos, nem
de sobrenaturais, no sentido vulgar dessas palavras.
3º
Muitos fatos são tidos por sobrenaturais, porque não se lhes conhece a causa; atribuindo-lhes
uma causa, o Espiritismo os repõe no domínio dos fenômenos naturais.
4º
Entre os fatos qualificados de sobrenaturais, muitos há cuja impossibilidade o Espiritismo
demonstra, incluindo-os em o número das crenças supersticiosas.
5º
Se bem reconheça um fundo de verdade em muitas crenças populares, o Espiritismo
de modo algum dá sua solidariedade a todas as histórias fantásticas que a
imaginação há criado.
6º
Julgar do Espiritismo pelos fatos que ele não admite é dar prova de ignorância
e tirar todo valor à opinião emitida.
7º
A explicação dos fatos que o Espiritismo admite, de suas causas e consequências
morais, forma toda uma ciência e toda uma filosofia, que reclamam estudo sério,
perseverante e aprofundado.
8º
O Espiritismo não pode considerar crítico sério, senão aquele que tudo tenha
visto, estudado e aprofundado com a paciência e a perseverança de um observador
consciencioso; que do assunto saiba tanto quanto qualquer adepto instruído; que
haja, por conseguinte, haurido seus conhecimentos algures, que não nos romances
da ciência; aquele a quem não se possa opor fato algum que lhe seja
desconhecido, nenhum argumento de que já não tenha cogitado e cuja refutação
faça, não por mera negação, mas por meio de outros argumentos mais
peremptórios; aquele, finalmente, que possa indicar, para os fatos averiguados,
causa mais lógica do que a que lhes aponta o Espiritismo. Tal crítico ainda
está por aparecer."
De forma brilhante, Kardec encerra o Capítulo dizendo que não é preciso ver fenômenos espíritas para entender e aceitar o que o Espiritismo nos fala. Basta usar a razão. Infelizmente muitos espíritas ainda hoje estão mais preocupados em ver "eventos maravilhosos" do que estudar a codificação.
"Algumas
pessoas contestam os fenômenos espíritas precisamente porque tais fenômenos
lhes parecem estar fora da lei comum e porque não logram achar-lhes qualquer explicação.
Dai-lhes uma base racional e a dúvida desaparecerá. A explicação, neste século
em que ninguém se contenta com palavras, constitui, pois, poderoso motivo de
convicção. Daí o vermos, todos os dias, pessoas, que nenhum fato testemunharam,
que não observaram uma mesa agitar-se, ou um médium escrever, se tornarem tão
convencidas quanto nós, unicamente porque leram e compreenderam. Se houvéssemos de
somente acreditar no que vemos com os nossos olhos a bem pouco se reduziriam as
nossas convicções."
Carmem Bezerra
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