Neste
Capítulo, André Luiz acompanha Calderaro no trabalho de assistência a um irmão
obsediado e ao seu obsessor. O primeiro, ainda encarnado, fora responsável pela
morte do segundo.
Enquanto
discutem o caso, André recebe de Calderaro várias explicações sobre o
funcionamento da mente. Abaixo são discutidos apenas alguns pontos deste texto
que é bem complexo (tive de lê-lo mais de uma vez).
1 –
Para evitar pensar no crime que cometera, o irmão infeliz se devotou ao
trabalho, vivendo assim quase que exclusivamente na segunda região do cérebro
(domicílio das conquistas atuais). Ele se sentia culpado pelo crime que cometera
e, portanto, não acessava a terceira região do cérebro (casa das noções
superiores).
“-A
mente criminosa, assediada pela presença invariável da vítima, a perturbar-lhe
a memória, passou a fixar-se na região intermediária do cérebro, porque a dor
do remorso não lhe permitia fácil acesso à esfera superior do organismo
perispirítico, onde os princípios mais nobres do ser erguem o santuário de
manifestações da Consciência Divina. Aterrorizado pelas recordações, transia-o
irreprimível pavor em face dos juízos conscienciais. Por outra parte, cada vez
mais interessado em assegurar a felicidade da família, seu único oásis no
deserto escaldante das escabrosas reminiscências, o infeliz, então respeitado
por força da posição social que o dinheiro lhe conferia, embrenhou-se em
atividade febril e ininterrupta. Vivendo mentalmente na região intermediária do
cérebro, em caráter quase exclusivo, só sentia alguma calma agindo e
trabalhando, de qualquer maneira, mesmo desordenadamente. Intentava a fuga
através de todos os meios ao seu alcance. Deitava-se, extenuado pela fadiga do
corpo, levantando-se, no dia seguinte, abatido e cansado de inutilmente duelar
com o perseguidor invisível, nas horas de sono. Em consequência, provocou o
desequilíbrio da organização perispiritual, o que se refletiu na zona motora,
implantando o caos orgânico.”
2 –
O corpo perispiritual, assim como o corpo físico, evoluiu durante milhões de
anos. Os centros de força do corpo astral são os pontos de ligação com os
nervos, o córtex motor e os lobos frontais do corpo físico. Estes centros de
força não são destruídos com a morte e nem com a reencarnação. Quando
um Espírito vai reencarnar, o seu corpo astral é reduzido a um formato bem
pequeno (restringimento) onde os centros de força são preservados (existe um
cemitério em Nosso Lar para enterrar os corpos astrais dos que vão renascer). Com
o nascimento, um novo corpo astral é formado (junto com o corpo físico), mas
com os mesmos centros de força. O choque causado nos centros de força com a
reencarnação é que provoca o esquecimento das vidas passadas.
“Comparando,
entretanto, a nossa situação com o estado menos lúcido de nossos irmãos
encarnados, importa não nos esqueça que os nervos, o córtex motor e os lobos
frontais, que ora examinamos, constituem apenas regulares pontos de contato
entre a organização perispiritual e o aparelho físico, indispensáveis, uma e
outro, ao trabalho de enriquecimento e de crescimento do ser eterno. Em
linguagem mais simples, são respiradouros dos impulsos, experiências e noções
elevadas da personalidade real que não se extingue no túmulo, e que não
suportariam a carga de uma dupla vida.”
3 –
Considerando as três regiões da mente, o ideal é que vivamos na segunda região
com visitas equilibradas às duas outras regiões. A fixação em qualquer das regiões
traz desequilíbrio ao corpo astral e, como consequência, doenças para o corpo físico.
“A
demora excessiva num desses planos, com as ações que lhe são consequentes,
determina a destinação do cosmo individual. A criatura estacionária na região
dos impulsos perde-se num labirinto de causas e efeitos, desperdiçando tempo e
energia; quem se entrega, de modo absoluto, ao esforço maquinal, sem consulta
ao passado e sem organização de bases para o futuro, mecaniza a existência,
destituindo-a de luz edificante; os que se refugiam exclusivamente no templo
das noções superiores sofrem o perigo da contemplação sem as obras, da
meditação sem trabalho, da renúncia sem proveito. Para que nossa mente prossiga
na direção do alto, é indispensável se equilibre, valendo-se das conquistas
passadas, para orientar os serviços presentes, e amparando-se, ao mesmo tempo,
na esperança que flui, cristalina e bela, da fonte superior de idealismo
elevado; através dessa fonte ela pode captar do plano divino as energias
restauradoras, assim construindo o futuro santificante. E, como nos encontramos
indissoluvelmente ligados aos que se afinam conosco, em obediência a
indefectíveis desígnios universais, quando nos desequilibramos, pelo excesso de
fixação mental, num dos mencionados setores, entramos em contato com as
inteligências encarnadas ou desencarnadas em condições análogas às nossas.”
Carmem
Bezerra